ÓPIO
O prazer está todo na reação que as sensações auditivas determinam no espírito, chegando o "material" pela sensação para receber sua forma de espírito. Eis porquê pessoas que têm na mesma proporção um bom ouvido diferem tanto a êste respeito. O ópio, exaltando em conjunto toda a atividade intelectual, acresce naturalmente êste modo particular de atividade, pelo qual estamos aptos a transformar em delicados prazeres intelectuais os materiais brutos da sensação sonora transmitida por um órgão.
Thomas de Quincey
ANGELA DAVIS
Pergunta: Hoje em dia as pessoas sentem que estão continuamente sob a ameaça de um crime possível, uma sensação que parece ser instigada pela mídia. Essa sensação de pânico é fabricada ou existe alguma verdade nela?
Angela Davis: Os pânicos morais sempre irromperam em conjunturas especiais. Podemos pensar no pânico moral em relação aos estupradores negros, particularmente logo depois da escravidão. O mito do estuprador negro foi o componente chave de uma estratégia ideológica esboçada para reformular os problemas relativos ao gerenciamento de negros recém libertos no período posterior à escravidão. Dessa forma, o pânico moral que rodeia o crime não está relacionado a uma escalada do crime em nenhum sentido material, mas sim a um problema de gerir grandes populações - especialmente pessoas não-brancas - que se tornam dispensáveis pelo sistema do capitalismo global. Esta analogia pode ser superficial, mas acho que funciona.
Pergunta: Nessa complexa rede de relações entre criminalizar as populações, condenações e aprisionamentos, você faz uma sugestão que é brilhante, a meu ver, e muito provocativa. Você diz que a criminalização dos jovens pela pretensa "guerra contra as drogas" ocorreu simultaneamente a uma explosão das drogas psicotrópicas prescritas pelos médicos. Porém existe uma diferença entre crack e prozac, não é?
Angela Davis: Sim. Um fornece lucros estrondosos aos laboratórios farmacêuticos e o outro não - embora as drogas de rua forneçam lucros estrondosos para as economias do submundo da droga. Enquanto hesito discorrer sobre as semelhanças e dessemelhanças, eu diria que há uma enorme contradição entre o discurso da chamada "guerra contra as drogas" e o discurso corporativo no qual drogas psicotrópicas legalizadas, disponíveis por meio de receita médica àqueles que tem dinheiro ou seguro-saúde, são promovidas pelos farmacêuticos como indutores químicos ao relaxamento, à felicidade, à produtividade, etc.
Extraído de "A democracia da abolição - Para além do
império, das prisões e da tortura", Difel, 2009.
YEVGUENI ZAMYATIN - NÓS
Distopia russa escrita em 1920. Influenciou Huxley em Admirável Mundo Novo (de 1930), Rand em Anthem (de 1937) e Orwell em 1984 (de 1948).
Dinheiro, o que significas?
- Sou o sinete dos corações; um coração uma vez
Selado por mim a ninguém mais amará se não a mim.
Que acontece a teu admirador quando te vais embora?
- Deixo uma marca em seu coração, a qual aí
permanece eternemente como uma chaga.
Dinheiro, de que mais gostas?
- Mudar de mãos.
Onde fica tua morada?
- No coração daquele que me adora.
Onde te acumulas?
- Onde sou recebido calorosamente.
Onde permaneces?
- Onde sou adorado.
Dinheiro, quem procuras?
- Aquele por quem sou procurado.
Dinheiro, a quem obedeces?
- A quem se tornou superior a mim, torno-me seu escravo
e comparo-me à poeira em seus pés.
NO MESMO BARCO
A ideologia oficial das grandes civilizações, em todas as suas variedades, quer nos fazer acreditar que a história real e digna de menção não teria mais de quatro a cinco mil anos, e que a espécie essencial, na qual tendemos a nos incluir, surgiu da névoa justamente naquela época no Egito, Mesopotâmia, China e Índia. Naquele tempo apareceram escrivinhadores e escultores que pela primeira vez nos mostraram o que era o homem. Ecce Pharao, ecce homo – o homem não é mais antigo que a grande civilização, a verdadeira humanidade começando no seu apogeu. Talvez essa tese nunca tenha sido defendida expressis verbis de forma tão crua, mas em essência ela funciona toda vez que humanistas, teólogos, sociólogos e politólogos tem a palavra, a fim de modelar imagens coletivamente eficazes do ser humano. Todos eles fazem com que o “homem” já apareça a partir da cidade ou do Estado ou da nação, sem esquecer algo que seja conveniente para fixar a aparência de grande civilização nas cabeças dos aprendizes culturais. Em contrapartida nunca é demais insistir como sempre foi falso esse doutrinamento e como é funesto, ainda hoje, o seu efeito. A fixação pelas grandes civilizações é o proton pseudos, mentira básica e engano capital, não apenas da história e das humanities, mas também das ciências políticas e da psicologia. Ela destrói, pelo menos em última instância, a unidade da evolução humana e desliga a consciência atual da cadeia das inúmeras gerações humanas que elaboraram nossos “potenciais” genéticos e culturais. Ela ofusca a visão do acontecimento fundamental que se antecipa a toda grande civilização e do qual todos os chamados acontecimentos históricos só são derivações posteriores – o acontecimento global: antropogênese. A apologia atual da grande civilização abrevia a história da humanidade em mais de 95%, até 98% de sua duração real, a fim de ter liberdade para uma doutrinação ideológica e antropológica em alto grau – a doutrina, entendida como clássica e moderna, do homem como um “ser político”. Seu sentido é apresentar o homem a priori como um animal burguês que, para sua realização essencial, pecisa de capitais, bibliotecas, catedrais, academias e representações diplomáticas. Onde quer que a ideologia da grande civilização se tenha estabelecido, apaga-se em cada qual a pré-história – como se cada novo indivíduo fosse um pobre selvagem que, tão rapidamente quanto possível, deve ser amadurecido para a vida em Estados. Se suspendermos a aniquilação da pré-história, então surgirão conhecimentos de uma condição de centenas de milhares de anos da humanidade, da qual só recentemente apareceram preocupantes desvios – desvios cujos efeitos se somam ao que Lévi-Strauss denominou história quente.
Peter Slotjerdik
sr buridan
● so quero odiar ●
● isso sempre dizia o sr buridan ●
● enquanto mascava sua aveia com mel ●
● isso sempre dizia o sr buridan ●
● enquanto mascava sua aveia com mel ●
● depois o resto vira ●
● completava o sr buridan engolindo ●
● sua aveia com o melhor mel rosado ●
● completava o sr buridan engolindo ●
● sua aveia com o melhor mel rosado ●
● não sou uma coisa q sofre ●
● infinitamente dizia o sr buridan depois ●
● de comer sua gorda aveia com mel ●
● infinitamente dizia o sr buridan depois ●
● de comer sua gorda aveia com mel ●
● so quero odiar ●
● porq naquele tempo o mundo se tornou ●
● terrivel com todo aquele massacre ●
● porq naquele tempo o mundo se tornou ●
● terrivel com todo aquele massacre ●
● nesse tempo e alem não sabiamos ●
● o q sr buriban odiava comendo ●
● sua aveia gorda com mel rosado ●
● o q sr buriban odiava comendo ●
● sua aveia gorda com mel rosado ●
● permaneci quieto com minha aveia ●
● sempre cheia do mais gordo mel ●
● enquanto homens destroem imperios ●
● sempre cheia do mais gordo mel ●
● enquanto homens destroem imperios ●
● so quero odiar ●
● com isso o sr buridan concluia a frase ●
● pra ficar bem junto do tedio e do horror ●
● com isso o sr buridan concluia a frase ●
● pra ficar bem junto do tedio e do horror ●
● sendo o resto do tempo calado ●
● se ouvido apenas seus poucos dentes ●
● remoendo a gorda cevada com mel ●
● se ouvido apenas seus poucos dentes ●
● remoendo a gorda cevada com mel ●
● mas isso nunca nos satisfez ●
● mesmo depois da morte do sr buridan ●
● o q ele tanto odiava não se revelou ●
● mesmo depois da morte do sr buridan ●
● o q ele tanto odiava não se revelou ●
● so quero odiar ●
● são essas as palavras do sr buridan ●
● sem ar so rasgadas com raiva e rancor ●
● são essas as palavras do sr buridan ●
● sem ar so rasgadas com raiva e rancor ●
● enquanto mascava aveia e mel rosado ●
● se não fosse isso sua sombra taria ●
● muda como seu corpo na vala ●
● se não fosse isso sua sombra taria ●
● muda como seu corpo na vala ●
● dos q morrem sempre por nada de nada ●
● agora diga ?quem trara nossos filhos ●
● é o mesmo q uma punheta na terra ●
● agora diga ?quem trara nossos filhos ●
● é o mesmo q uma punheta na terra ●
● so quero odiar ●
● sim porq outro sr buridan vira ●
● outro pra mascar aveia com mel rosado ●
● sim porq outro sr buridan vira ●
● outro pra mascar aveia com mel rosado ●
● mas esse e todos os outros q virão ●
● não poderão dizer so quero odiar ●
● porq nenhum deles sera o sr buridan ●
● não poderão dizer so quero odiar ●
● porq nenhum deles sera o sr buridan ●
● nenhum podera mascar aveia com mel ●
● como mascava o sr buridan nem odiar ●
● como so o sr buridan podia odiar ●
● como mascava o sr buridan nem odiar ●
● como so o sr buridan podia odiar ●
23. SE NÃO FOSSE A LITERATURA, EU SERIA UM PLAYBOY IDIOTA MEXENDO OS QUADRIS NUMA FESTA À FANTASIA.
Diego Moraes
em A solidão é um deus bêbado dando ré num trator
POR MAIS CANAIS DE EXPERIMENTAÇÃO SENSORIAL ENTRE OS POROS & O COSMOS
Curritipidupapapadocustipado!
A linha patafísica que interessa a mim & à minha sombra é a linha do horizonte.
O oceano é o intérprete patafísico que mais saca a linha do horizonte. É bibliografia líquida. & perfumada.
O único amuleto na vida de um patafísico é o coração.
Patafísica de linha do horizonte, vagabundagem inspirada. Anarquia.
A Baía de Guanabara é muito parecida com a Baía de Guanabara. Isto não parece um coração batendo, isto parece o vento soprando.
Uma pérola na garganta de uma ostra. Uma garota dançando reggae na areia da praia.
O espaço aéreo de um bocejo de fim de tarde. Uma matrix de água. Patafísicas.
Gritos de êxtase na feira do cu. O carnaval é todo dia.
Quem foi que disse que você deveria ser feliz? Masque um chiclé, tome um chope, ligue para sua amiga. Estrelas mudam de lugar. & não se esqueça: alegrias! A Revolta não tem nada a ver com a verdade, mas com as excitantes possibilidades de fazer sexo tântrico com o espírito de sua época. Curritipidupapapadocustipado!
Quando o barão Mollet está montando um sanduíche com duas fatias de queijo, presunto, física, metafísica, patafísica & pepinos, está na verdade querendo dizer:
Salve Xangô
Salve Iemanjá
Mamãe Oxum, Nanã Buroquê
Salve Cosme & Damião
Oxóssi, Ogum
Oxumaré
Patafísica. Patafísica. Patafísica.
A nêntese é um epifenômeno preciso.
Lei número 1: cantar em voz alta no chuveiro. Todos os dias.
Da pândega à patuscada, & dela à farra & de lá pro fuá, depois da folia, direto pro pagode & pro samba, descansar na orgia & na poesia. Patafísica. Amanhã ainda é o terceiro dia. Banque seu jogo, criatura!
As ciências ocultas são um pôr do sol inesquecível para a mente. Resista, criatura!
& se a pegadinha fosse: a vida é um teste sonoro?
Paulo Bruscky continua sendo uma referência.
A festa é um café gostoso. Sol & lua. Tudototal!
Lei número 2: a Revolução Nordestina é uma alegria.
Um sorvete sabor alegria. Uma tarde de sol morno, o sabor alegria na ponta da língua & no vão entre os dedos.
As quatro estações no nordeste na verdade são três: verão & calor. VIVA A REVOLUÇÃO!
É zebra vaca véia!
Só, & apenas só, o Tempo pode ser rei, pois rasga fogo com os dentes.
A espiritualidade ancestral é uma das camadas do fôlego de todo ser patafísico vivente. A espiritualidade ancestral é uma Revolução. A espiritualidade ancestral é muito bem-vinda.
“Tempo Rei”, “Oração ao Tempo” & “Time”.
A rima é um voo de morcego pelas cavernas escuras da linguagem.
A Nova Era é a Revolta. Lírica, claro.
Favor se ligar que, à exceção do Tony Stark, ninguém é de ferro. Menos velocidade, criatura!
É necessário resistir ao presente ferozmente. Por isso: VIVA A CRIAÇÃO!
A Criação & a Revolução têm partes com os nossos poros. Por isso o Cosmos banca nossa fiança.
Os Ramones são uma banda. Os Ramones são também a maior & mais linda perfomance de nosso total fiasco existencial. Há muito barulho & distorção nos fiascos. & há alegria também!
Não confundir alegria patafísica com alegria mastercard. Não confundir cu com bunda, lembre-se.
Nós, patafísicos da era do Black Metal, queremos é avacalhar. Conexões, conexões, conexões.
Como diria Torquato Neto: não adianta matar o príncipe se não matar o princípio.
Quem aumenta seu conhecimento aumenta sua dor. Não acreditamos em rotina & odiamos o capitalismo. A dor é uma rotina capitalista. Portanto, o Eclesiastes está nota mil em matéria de porforice.
A licantropia como antídoto à selvageria capitalista. VIVA A ANARQUIA!
No deserto do real, a máquina de escrever é o oásis do poeta.
A poesia não pode ser bunda-mole. Se for, não é poesia, sacou?
Raimundo Soldado continua sendo uma referência.
A palavra marshmallow foi abolida imaginariamente do vocabulário dos patafísicos de linha do horizonte. A doçura é uma espécie de clave de sol. A palavra marshmallow foi ovacionada pela nossa realidade far west.
A palavra marshmellow tem o charme juvenil do Clube dos cinco.
A palavra marshmellow é muito louca.
Pelas polinizações cruzadas entre lábia & lábios.
Bruxos, sim! Todo patafísico de linha do horizonte é um bruxo.
Deletar da memória da linguagem, escrever um nome lindo na água.
A velha calça desbotada ainda é um paradigma válido. O clima é de guerrilha, mas o coração ainda se derrete ouvindo Roberto.
O coração é uma pulsante ilha-de-eleição.
Quando pintar aquela insônia, projetar nas suas pálpebras aquele beijo que descolou as placas tectônicas. Abrir o mar Vermelho das pálpebras & lá, anarquicamente, projetar-se de mãos dadas com o amor da sua vida. É isso que George Romero, que não acreditava em metáforas, quis dizer com seus apocalipses zumbis. Apocalipsis litteris.
Filar o gargurau na casa de um amigo não é apenas filar o gargurau na casa de um amigo. Não há mais poesia que no abraço.
Passar a mão na bunda do guarda, descer de barril as cataratas do Niágara, ler uma HQ escrita pelo Alan Moore, ver o fim de tarde mijar luz lilás no planeta. Patafísicas.
Poesia é quando uma pedra no meio do caminho se solta do calçamento & voa rumo às vidraças dos palácios – VIVA O COLETIVO P.U.T.O.!
Os patafísicos são putos. Em várias acepções.
Tesão, tesões. Pela livre iniciativa das imaginações amorosas que pavimentam os caminhos que permitem encontros & afetos. Boleros, flertes & beijos a granel. É o único momento em que o tempo para pra prestar atenção na gente.
Uma revolta popular é o momento mais erótico de todos – VIVA O COLETIVO P.U.T.O.!
Ocupar espaço. Chegar chegando. Ocupar espaço é sexy.
Por um carnaval permanente do espírito & da inteligência.
A teoria da poesia (despossessão) é transmissão escrita, a poesia (possessão posêidon exu-caveira) é transmissão oral.
Xamanizar os pores de sol, xamanizar a caligrafia, xamanizar a respiração, xamanizar a vida. Patafísicas.
Amor é quando a garota passa perfume & o garoto passa loção pós-barba & depois saem juntos para dar chêros um no outro. Patafísicas.
O amor é um xamã patafísico.
Ocupar espaço. Um poeta, parça, não se faz com versos. Muita gente já sacou.
Ninguém escapa. Na hora do aperreio, vampiro come chouriço.
É por isso que o céu de São Paulo é cor de Bosch.
Curritipidupapapadocustipado!
Existe, na mente de muitos patafísicos, a gangue imaginária do quarteirão oeste, Os Nuncas. Há uma espera grande na solidão d’Os Nuncas. A última vez que eu não vi um Nunca, ele estava com uma camiseta do Jorge Ben.
Por mil venenos do rato do gabirú, Carmencita!
Curritipidupapapadocustipado!
Apesar das controvérsias, Genésio é eterno!
A expressão patafísica curritipidupapapadocustipado (de origem andreense, coração de alcachofra do ABC paulista) pode ser traduzida por: Pode ser que um dia descobrirão que não serve pra bosta nenhuma. Mas não recue.
Curritipidupapapadocustipado, é bom que se explique woodyallenianamente, não é um neologismo, é um login para os dias onde agrava-se o agradável.
Frank Zappa continua sendo uma referência.
Estações de metrô, catracas de estações de metrô, são áreas de abraços, de beijos de chegada & de partida, portanto, são áreas de Revolução permanente! Ocupar espaço, sempre.
Zona Trash é troo. Vá na fé.
Stephen King é um mago. Barry McGuire também.
Curritipidupapapadocustipado!
A linguagem é uma patafísica esquisita.
O Zéfiro é patafísico.
& quando o Breton diz: são seus olhos, sobrancelhas de nuvens. Um céu lindo de estrelas. Não há mais patafísica no mundo que nisso!
Jamais esquecer: verdades são desinteressantes versinhos bonitos & sorridentes.
O Twisted Sister ainda vai dar o que falar.
Torquato Neto continua sendo uma referência.
Quando ouvir uma canção extraordinária, panssensorial, uma ilíada multilingue, anote o nome. Escreva algo como: “Que puta canção linda!” ou “Essa canção me entende”.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é comer com coentro.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é moqueca com pimenta.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é cantar iê-iê-iê.
Eu & a minha sombra queremos mesmo voar de disco voador.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é pecar debaixo do cobertor do lado baixo do Equador.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é ler os poemas do Sergio Mello.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é uma novela mística indomável, malaca, com partes com Deus, o diabo & Rimbaud.
Eu & a minha sombra queremos mesmo é a eternidade inteira de uma vez. Eternidades que nos acontecem quando ouvimos um samba lindo num fim de tarde num bar quase vazio perto do fim do mundo.
A tristeza é uma metáfora que só serve pra dar dor de cabeça & dar aquele amargor aqui ó. Saca?
Valamenossasenhora!
Hélio Oiticica continua sendo uma referência.
Curritipidupapapadocustipado!
Como diria o Porco Rosso, um porco que não voa é apenas mais um porco.
Quer dizer: isto não é um cachimbo, É MAGIA!
Se você não tá confuso então não tá entendendo nada.
Não tem jeito que dê jeito, portanto, sejamos loucamente felizes, afinal, a vida não dá de comer aos urubus & continua de boa jogando seu fliperama – no boteco da gosma do Cosmos.
Chêros.
(Dia de Samba-rock, amor & uma lua linda no céu da Desvairada, novembro de 2013)
Fabiano Calixto
RELATÓRIO FIGUEIREDO
No ano de 1967 o procurador da república Jader de Figueiredo Correia foi incumbido pelo então ministro do interior, Albuquerque Lima, a apurar irregularidades que estavam sendo cometidas pelo SPI, o Serviço de Proteção ao Índio, órgão oficial do estado brasileiro supostamente responsável, desde 1910, por prestar assistência a todos os indígenas de seu território (a Funai – Fundação Nacional do Índio – veio a substitui-lo em dezembro de 1967 e atua até os dias de hoje). Após meses de investigação país adentro, foi produzido um documento que ficou conhecido como “Relatório Figueiredo”, composto por mais de sete mil páginas e cujo conteúdo permaneceu desconhecido da população até 2013, quando foi reencontrado e publicado. Seu teor traz relatos de práticas cometidas por funcionários do estado brasileiro e por terceiros que contavam com a conivência dessas pessoas: "O índio, razão de ser do SPI, tornou-se vítima de verdadeiros celerados, que lhe impuseram um regime de escravidão e lhe negaram um mínimo de condições de vida compatível com a dignidade da pessoa humana. É espantoso que exista na estrutura administrativa do País partição que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos, cuja bestialidade tenha atingido tais requintes de perversidade. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos, em monstruosos e lentos suplícios, a título de ministrar justiça" (Relatório Figueiredo, 1967, p. 4912).
Se agiam “a título de ministrar justiça”, o faziam imbuídos da autoridade propiciada por serem funcionários do SPI, um órgão de estado oficial. As páginas que seguem a introdução relatam inúmeras monstruosidades e enfatizam a desumanidade com que os indígenas eram tratados, onde são atribuídos adjetivos como “celerados”, “bárbaros”, “desumanos”, “perversos” ou “bestiais” aos não-indígenas e seus atos de extrema violência em relação aos povos que deveriam, por ofício, proteger.
"Reafirmamos que parece inverossímel haver homens, ditos civilizados, que friamente possam agir de modo tão bárbaro. [...] Nesse regime de baraço e cutelo viveu o SPI durante anos. A fertilidade de sua cruenta história registra até crucificação, os castigos físicos eram considerados fato natural nos Postos Indígenas. Os espancamentos, independentes de idade ou sexo, participavam de rotina e só chamavam a atenção quando, aplicados de modo exagerado, ocasionavam a invalidez ou a morte. Havia alguns que requintavam a perversidade, obrigando pessoas a castigar seus entes queridos. Via-se, então filho espancar mãe, irmão bater em irmã e, assim por diante" (idem, p. 4913).
OZ GUARANI
Então, essa história da colonização, ela existe desde que o mundo é mundo. Não é porque as pessoas dizem que vivemos num mundo pós-utópico, pós-revolucionário, que ela não existe mais. Essa ideia do centro e da periferia, da colônia e da matriz, ela existe. Todos nós estamos aqui discutindo isso. Aquele discurso de “fim da história” é europeu, porque já se esgotou. O Müller [Heiner, dramaturgo alemão] falava que a única possibilidade de reinvenção da história e da arte seria na América Latina, e acho que é por aí.
Francisco Carlos
Desde o século XVII (i.e., desde pelo menos a História do Brasil de frei Vicente do Salvador), narramos uma mesma história sobre uma terra virgem que foi desbravada e povoada por seus descobridores. Esses motivos – virgem, desbravada, descoberta, povoada –, tão recorrentes na historiografia, expressam um modo de relação da sociedade colonial, e depois nacional, com os habitantes desse país. Os povos indígenas não são jamais vistos como sujeitos, mas sempre como parte da paisagem que cumpre dominar. Da perspectiva da descoberta, o Brasil era um vazio feito de rochas, rios, plantas, animais e índios.
Carlos Fausto
ETNOCÍDIO
Pierre Clastres